26.12.11

o segredo de i

Corpo de rainha em porte de menina, um sorriso entre a calma e a poesia. Sorriso terra e maresia, traz no alforge os ladrares do monte e a areia pintada da vista. No silêncio, escondido, a altivez pretendida, branda, benigna, terna e, sim, ligeiramente ferida. Fina, doce, mansa, nunca afiada. E o que debanda escondido é um pouquinho de medo de não ser tão amada. Nos braços, ferramentas, tesouros nos por dentros, entre véus, camadas e roupas de caminhadas. Tanto dado, pouco entendido. E a reserva dos ensinos, quieta, E menina, e calada... assim, de fugida, não magoa. Já sabe, o dado não é garantido, por isso nem tudo é assim jogado e quando o outro perde a prenda, desmerecido e amado. Protegida, num silêncio reservado. Um olhar atento, esperto, franco, uma mente tão alada. As mãos que tudo fazem, escondem também o reinado. Tudo dito com cuidado, tudo puro e bem pensado... e essas mãos, menina, porque escondem o reinado? E no entrever do sorriso, no "gosto de ti" sussurrado a força, não de menina, mas de mulher proclamada. E essas mãos que tanto fazem, porque escondem, rainha, porquê de menina tanto cuidado?

* a tua prenda está feita, a minha está guardada. recebo-a no dia em que reclamares o que teu por direito é. felicidade.

16.12.11

o que não é um texto, foi um sonho


Só 2 personagens ( e a presença da minha mãe - pensava várias vezes como lhe ia explicar, mas estava tranquila)-
eu sempre tranquila e feliz. e esta moça, sim esta.
a tatuar.
me.
3 tatuagens.
as historias das três misturam-se. explico uma por uma.
a primeira,
na mão, mão toda...
um diagrama, filigrana azul turquesa, clarinho, clarinho.
Não consigo perceber se na palma da mão, se nas costas da mesma. era o lado onde agora tenho o sagrado coração.
Lembras-te com pormenores?
 
escrito, entrelaçado no diagrama, a letra fininha, bonita de mão, um poema. sim, tudo.
todos os detalhes.
 
Lembras-te do poema?
 
Sigo com essa primeira tatuagem, mas mal lavo volto atrás.Reparo que o poema acabava com uma frase que não podia ali estar.
 
aiaiaiai
? porquê?
a frase ou tu?
 
Insisto com a moça para que a cubra, risque essa ultima frase. o poema era da de amor, lindo, lindo. mas não podia ter aquela ultima frase. insiste. tinha que ser o poema completo.
 
era o quê, a frase?
 
eu digo não. não tem. risca, cobre com tinta a frase.
 
"be mine"
 
tu?
eu tranquila
 
precisas?
eu não
queres que continue?
tu nem sequer és de ser de ninguém
ou coisa nenhuma
o máximo és tua
sim
 
mas a frase quando a pensava não  era a mim.
lembro-me perfeitamente disso.
 
então?
era no teu braço?
pulso
lembro de pensar se houver um amor, nas minhas conquistas, não existe isso
era no meu pulso,
na mão,
acho que era nas costas da mão o poema
e na palma continuava o filigrana, sei que era na mão toda, não sei que lado escrito.
dedos, tudo,
e pensava que não, aquela frase não cabia na minha forma de amar. não havia esse pedido de "be mine" em mim.
queres saber da segunda?
esse "be mine" pode ser de ti para ti, não?
mas não era.
e foi essa a frase que fui cobrir, riscar
se calhar não precisavas de cobrir se lhe desses outra
intenção
 
o poema era lindo, muito cândido, em inglês, como aquelas rimas docinhas do roses are red violets are blue angels in heaven know i love you
epá eu não escolhi sonhar isto
sonhei assim

ehehe
e o bonito é q estava feliz
e gostaste, aposto
mmm... sorrio
mas a segunda tatuagem ainda foi mais fora.
diz,
era uma pulseirinha no tornozelo. super colorida mas também clarinha. sendo supostas relembrar o meu crescimento nas adolescências. as influências electrónicas ( a verdade é que nada correspondia ao que foi no real o meu imaginário)
:)
tinha um mini cogumelo do super mário, um mini pac-manzinho com a sua pastilhinha, um mini supermáriozinho e mais um ou dois, repetia essa padrãozinho inocente e tão me distante ao longo do tornozelo.
mais uma vez chego a casa lavo. e do tornozelo passa para ambos os pés. para o peito de ambos os pés.
!e tinha em vez de um desenho,
os pés cobertos de azul fortão,
quase turquesa, quase como se uma trincha me tivesse passado os pés,
e em cicatriz, fininha, branquinha, muito, muito afiadinha, em letras maiúsculas e grandes:
AMA RELO
AMARELO
ESCRITO DE UM PÉ PARA OUTRO!
em cima de azul forte, lindo, alentejano.
 
Tenho a sensação que havia mais tatuagens, mas so me consigo lembrar de mais uma.
e essa fiquei satisfeita sem retoques.
era uma linha fina, negra, como se de meia fosse meia. de onde o tornozelo acaba, até ao principio do interior do joelho... aí esbatia... acabava. bonita. e acaba o que me lembro do sonho.
 
o azul era quase assim.
 

uma barragem de desejo

e enquanto vivo o jorro contínuo. cada centelha a pulsar, cada microcosmos de mim. Aviões estrelas num sopro, a água que bate nas mãos, o fumo de cada conversa e um sorriso, franco, com passagens abertas, sem guardas nem fronteiras, sem empecilhos, fluido, imbecil, tolo jogado, impossível de conter.  um passo que estou viva, um passo que é delícia. uma dança por mim. a música que invade cada espaço vazio, cada bosão por reconhecer, cada vácuo que é cheio. um vento que transporta as dores e os alívios, tudo misturado num êxtase tão meu, tão nosso. isto é vida, cada grito, pulsa, pulsa, cada respiração. respiro. e todos os dedos se tocam. todos lábios sopram na mesma existência. uma a uma, mil, tantas, uma partícula. que partitura tão bonita, que parto tão lento. um passo. o pé que encosta à pedra, a pedra há, à vida. que contínuo tão bonito. que pulsar tão infinito. que bem que a empatia me traz.

12.12.11

carinhoso

Nas tuas imagens vejo sombras de mulheres sempre que não eu. Eu sei que são casas, mas sei que em ti está essa história que me exclui. Apenas as sombras das que não eu. Eu sei que são bairros, armazéns, mas entre a luz e a sombra desenham-se as caras e perfis das mais perfeitas que em ti estão. Que desejo tão raro de estar nessa lista emocional, nesse catálogo apurado de raras, nessa novela séria de casos bem comportados, onde o meu desatino, desafio, desafino, nunca escorreria bem. Onde seria sempre mais estranha que bela. A nossa paixão, que apenas eu senti, foi uma lágrima de canto, contigo pestana sempre a conter a água que sou eu, que sentia tanto. Tenho pena de não te ter pertencido tendo sido tão tua. E de depois de tudo arrumado, te continuar a ser estranha, rara, distante, externa em vez de entranha. Confio nos traços da vida, nos desígnios e predicados, mas o chorinho de não se ter cumprido ainda me acompanha, um ribeiro fininho, afiadinho de e se fosse, um nadinha de esperança que não vem, porque nunca precisaste de abrir as mãos do que não querias. Não me retiveste, não me quiseste, nada meu. Nem os beijos quentes, nem o corpo torrente, nem o aperto de mão, nem o abraço transformador e mais triste... não foi por fuga... foi por não ser importante.

bate... e não te vê.

11.12.11

luas novas

Primeiro o frémito... o poder que me invade o baixo ventre, sacode-me o corpo, enche-me dessa força, sequiosa, bruta, sedenta... poderosa. A barriga cheia, o sorriso largo, tudo o que me pertence se cumpriu. Aos poucos, abro as mãos. Abrir as mãos, largar, soltar... saltar de coração. Acima do corpo. Entre a mente e os afectos, entre a tesão e os anseios. De barriga cheia, fêmea, de lua ao alto e campina aberta. E entende-se, integra-se, mais que cadela, loba, mais que matilha, alcateia. E toda a calma que uma cuidadora têm. Corre-se de mirada o terreno de caça, limpam-se as esteiras, ordenam-se as crias, lambem-se as feridas, as tuas e as dos outros. E a cada passo alfa, mais um pouco de sossego. A cada campanha, mais espaço para ti, o espaço cada dia mais limpo para te cumprires. Em alcateia. Com espaço. As patas a ficarem largas, cada rosnar mais assertivo, e estes meses que são anos por te estares a aprender a servir. Ao serviço de ti, em serviço do que te tornas. Fluido e controlado. Porque a floresta é tudo menos caos e no teu corpo e desejos impera a ordem de ti. Impera uma harmonia. A harmonia de uma clareira, a criar espaço com um sorriso, de mãos ao alto e corpo em trânsito, de cabeça fixa. Pronta para cada campanha, ágil em cada caçada, cumpridora de cada missão, sempre primeiro imposta por ti.
Cada salto, coração, cada conquista coração, cada caçada, estômago e barriga. Impera a mente. Impera a harmonia.
Uma loba é um corpo completo. E as luas acordam a que eu não reconhecia.