19.10.12

neste país

Resta-nos o saudosismo e a promessa das lágrimas irem connosco, resta-nos a voz rouca que conta as nossas histórias enquanto ainda temos alguma comida na mesa. Resta-nos partir ou vê-los a ir e dizer que em breve os seguiremos, com a ilusória esperança que tudo voltará a ser como era, ou pior, que tudo será melhor um dia. Restam-nos as paisagens abetanadas e as estradas vindas de um conflito que tarda em eclodir. Os caminhos que nunca aqui vêm ter, os copos cheios e uma convivência triste e forçada. Resta-nos termos de nos aturar assim em jeito manso, já sem visão de mais nada, porque o nosso jardim se tornou prisão. 
Restam-nos as ruas até nos cansarmos de pedir ou eles nos matarem à porrada. Cabe-nos sonhar, com as califórnias, os brasis, com o lá fora que ainda assim dizem que não está melhorzinho, com o dia em que eles caem e vêm outros melhores. Cabe-nos gritar sem ser ouvidos, em dias de sentir que um dia perdemos a voz e nada muda.
Ficamos com panfletos nas mãos, os folhetos de dai-nos pão meu deus todos os dias, com os assuntos apagados e as soluções que eu não tenho, tu também, mas que há quem tenha, te prometo, por aparecer. 
Sobram-nos as mão atadas e os pés sem se poder mexer, num lugar cova sem vida após a morte. Sobra-nos esta casa terminal, sobra-nos a contínua procura da cura. 
E um perguntar se este morrer vai ser ainda de mãos arregaçadas, de quantos mais se vão calar, fugir, desistir dos outros tantos que por aqui ficam, para poder sobreviver.
Sobram-nos sonhos e projectos. Não se sabe é se nos sobra a força para os cumprir. 
Desta tristeza que nos consome sobram, restam, nascem fagulhas. 

Umas hão-de morrer cedo.

Outras hão-de progredir.

(fim de brasa ou fogueira, cada mau dia o determina)