24.3.07

MANIFESTO CORPO MULHER



Descobri os verbos dos meus desenhos. Eu quero. Eu posso.
Encontrei o prazer de me olhar nos olhos dos outros e a tolerância nos ouvidos combativos. A vontade está nos meus braços e a força entre as pernas.
O gosto na minha boca é ser mulher, mas no sorriso guardo um tesão de homem.
Nas obrigações, os direitos: recusar um galanteio, beijar os amigos, passear com estranhos em nenhures e declinar os convites que me amordaçam a barriga. Nos cabelos, todas as ideias que um dia irei cortar. Nas unhas, o resto das feras que enfrento ao casar o lobo e a virgem que fazem da cabeça coração arena de lutas e campo de amassos. Os cotovelos ficam afiados com tudo o que evito dizer e a língua amolece ao segurar o entusiasmo com os dentes. No peito, levo a crença de que tudo sou capaz. Nas mãos, a cura e nos punhos a liberdade. Pés que caminham sempre em frente com a guita no tornozelo, puxando, puxando a casa. Ter as costas quentes de trabalhos e a garganta aberta para os gritar. Juntar o rabo acomodado aos joelhos que não querem parar. Nos dedos todos os cálculos, dedilhando um no próprio prazer. Na pele todo o sol, todo o mar e toda a vida que é suor. No sangue, dever de amor-livre, ser tua, escolha minha, e o rubor numa caixinha até voltares.

1 comentário:

Anónimo disse...

Que bom q voltastes a ecrever, linda!