Hoje durmo triste... só hoje. Durmo triste porque aqueles que estão
em funções para nos protegerem transformaram-se em vândalos que atiram
mesas e cadeiras pelas janelas, que destroem computadores e material
didáctico; aqueles que deviam salvar vidas encobrem a cara com capuz e
sem fardas, arrancam cartazes e emparedam portas e janelas. Como numa
distopia conhecida, só queimar livros ainda não o fizeram, mas foi o
mesmo, porque hoje uns quantos, de uma biblioteca, foram para o lixo.
Hoje
(e nos últimos meses), manifestante parecia uma palavra feia nas
notícias, assim como anarquista e ocupa, e em vez de admiração era
suposto ter-se medo. Hoje fechou-se uma escola, tentou-se matar uma
ideia, bateram em gente que lutava por dias melhores num país onde tudo
está tão triste que quem ainda tem força é de louvar. Num país onde
dizem à massa critica para emigrar e assim os obrigam, caso queiram
sobreviver, onde parece que sair para as ruas é cada vez mais criminoso,
assim como ajudarmos os que nos estão próximos e darmos o tempo que
temos a melhorar o lugar onde vivemos.
Hoje perdeu-se o bom senso e
só se lembraram leis que não são de homens, mas de carteiras. Hoje
houve quem demonstrasse abusivamente o poder e quem perdesse a cabeça ao
obedecer a ordens sem pensar. Houve quem destruísse bicicletas, quem
esmagasse computadores, com medo do que uma mudança boa pode fazer, com
medo que solidariedade se tornasse um vírus e contaminasse com tanto
coração mais vidas e mais bairros.
Hoje houve violência sobre população, e os criminosos foram os agentes da lei.
Hoje durmo triste... mas amanhã...
Amanhã
volta a nascer um sorriso, porque a ideia se espalhou, porque também
foram muitos os que ficaram tristes comigo, e porque por aqui, a
resistir a quem nos quer por fora deste país, somos cada vez mais os
indignados.
Amanhã acordo feliz, porque sei que os nossos pais nos
ensinaram o que foi Abril, e o que devia ter perdurado, e que por muito
que estes senhores queiram, por que destruam, fechem e batam, há cada
dia mais bocas que não vão conseguir calar...
e apesar deles, da força bruta e de toda a repressão....
AMANHÃ VAI SER OUTRO DIA!