6.9.16

Talvez não te tenha dito que escrevo cartas de amor.
No meio de tanta pequena partilha nem sei se deslindei mais essa. Nem sei se lembro bem tudo o que conteve o tempo breve que passei contigo. Leve, lindo e solto.
Mas hoje olho para a minha cama e tenho mais que raposas, ficou um rasto de pássaro e o desenho do teu corpo aqui marcado, junto com a tua mão no meu joelho.
Deixei-me apaixonar, apenas isso e é tão tranquilo, mesmo com dúvidas de menina habituada tão só a uma masculinidade europeia silenciada, sem tentar encontrar sentido mas deliciada com tanto mel que da e para a tua boca linda escorreu. Com a tua cicatriz ainda gravada nos meus dedos, admirada nas tuas histórias e cúmplice em sentidos que em outros percursos também tomei.
Sei que és um príncipe, e não baby, nunca serei princesa... Nos dias bons sou rainha. Mas é a tua cabeça que tem coroa e o teu corpo vai tendo e sendo manto, por horas apenas. Suspeito que sejas também andorinha.

Voa, então, Príncipe Andorinha, cruza todos esses mares e, se quiseres e quando quiseres, volta para mais conversa, afecto e as flores que nascerem.


Mas vai e volta claro e transparente para todo lado. Sem esquecer de usar todas as palavras. Para honrares o coração que tens, e os pedacinhos que vais recolhendo.
Com amor e coragem.



15.6.16

em dois compassos (um desejo e um recado)

preciso que se reescreva a promiscuidade.
de não continuar retalhada entre os romances que li e a liberdade que me cose.
canso-me das narrativas que me prendem à leviana ou marialva condenada ao castigo ou à salvação da monogamia aborrecida.
não me preenche esta norma que cinge os meus amores a lugares onde não me esventro. que os invalidade por não haver como os dizer.
enquanto eu mesma me desfaço das linhas que me condenam ao medo que o amor me torne menos e o sexo mais mulher.
quero desendeusar este pânico que enfrento no risco de ser mais um cliché. valer a audacidade sem por isso dar menos e menos receber.

( as vezes, contigo, assusta-me amolecer. ficar carente, presa a uma co-dependência que me vai fazer desvanecer. onde estão as novas histórias que desfeminilizam o amor, que tiram os anos da cultura e deixam de me por a jeito de tornar mulherzinha, de me desmerecer? 
quero celebrar para além da aceitação... aceitação, corrida, partida, nunca o ganho. A meta sempre uns metros à frente, enquanto festejo o andar.
Senão onde encaixo a tranquilidade, o carinho, a tesão? )

 preciso que promiscuidade revele mais do cuidado com que se escreve. ressignificar fora do assignado.

é preciso ocupar o amor
e dar-lhe uma casa sem paredes

27.4.16

amor transoceânico

alguém do outro lado do mundo gosta de mim...
alguém do outro lado do mundo me conquista...
e entre voos e as horas, só contam as que se estão e ano e meio são poucos dias... tão bom contar o tempo assim. um tempo espaço de encaixe específico, nosso, da cama que acusas desarrumar, conversa boa e esse cheiro, que hoje vou ter no corpo, que tu hoje suarás de mim. desprendido. com os nossos limites de carinho e o teu sorriso enquanto dizes tão bom...
gosto deste tempo suspenso, deste contar diferente. desta intimidade arrumada na distância que de quando em quando, irremediável e felizmente, nos aproxima.
e deste entendimento profundo do que se quer e o que se sente, contido em dias e profundo. suspenso e permanente. intimo de pele, espaço e pelo tempo. 
porque também isto há que comunicar. na despedida que avizinha novo encontro em 15. como se os anos fossem horas, porque tudo é sabido como um até já.