22.4.13

Coração de Rainha

Borbulha ainda entre este coração e os pulmões, numa intensidade mais tranquila que desmedida, a palavra liberdade, uma declaração de independência incompreendida, que mais que um não querer significa um amar muito. 
Vivem, neste espaço infinito, conceitos novos ou relembrados, que se colaram às válvulas como se lá sempre estivessem estado, messiânicos e de porta em porta, que saem pela ligação directa coração boca para tantas vezes serem mal interpretados e outras vezes assustarem quem já sabe muito. 
Acordam, neste espaço livre circulação, a cada dia com o monte onde vive, forças novas. Desperta vulnerável, às vezes triste e cansado, cobrindo-se das cores de cada momento limítrofe do firmamento. Reconhecido, desmembrado, olhado ao espelho, cosido e inteirado, coração de não tão rápida regeneração quanto queria, mas que se vê inteiro e pronto e pode a cada momento.
Coração que não guarda mágoa mas aprende, que não quer prender nem ser preso, deixando as grilhetas para as mãos e pés em dias de tesão negra.
Coração já não tirano, com cabeça ceptro de guia a saber o que não quer e o que deseja. Coração lambido que não insiste nas cicatrizes em cima de cicatrizes, que vai passando o dedo no relevo da obra e observa o tecido mole a curar e a respiga das estações pelas quais se ordena. Coração que quer primavera, mas já nem tanto ou tão sôfrego e sente com calma o sol a pousar na terra a cada ciclo. De quando em quando febril, coração de pastora, entregue aconchegado entre as mãos em dez dias, com contracção amor humor que diz: "são (apenas) rosas, senhor(es)".
Coração com asas de pássaro e um abecedário inteiro a se entregar, escolhendo as poucas letras para quem seria o muito que mais ninguém recebe. Solto e há procura de poiso, num jogo de stop com a palavra certa a cada amante. A cada um sabendo o que se empresta.
Coração que pena baixinho pelo que não lhe pertence de quando em quando ser de alguém. 
Coração viagem, que pula em manchas gráficas e respinga tinta e não sangue, cujas dores de pele lhe dão rijeza para esperar. Que acima de qualquer dor, gosta é muito de voar.
Coração corpo, com espaço extenso para brincar de dar, com ancas que descem do trono para se alimentarem, pulsões rítmicas e voltas a casa de pele alimentada e suada.
Coração que olha.
Coração que faz.
Coração que espera.