18.7.12

missiva em claro azul

Quinta volto aí. E imagino logo o convite para um cafézinho. Sabendo a recusa, enceno na minha cabeça o que te diria. De como me sinto perdida e nada está a ser tão perfeito como deveria. De que a cada queda ou alto se torna tão fácil imaginar o teu sorriso. De que me lembro, muito, de tanta cumplicidade e conversa, de tanto carinho, abraço e que por muito que o tempo passe continuará gravado no pescoço o mesmo beijo. De que nunca te esqueço nem quero largar da mão o que sinto e senti e que talvez seja preciso outra grande paixão para esquecer um grande amor. Que sei tudo isto a saber que qualquer futuro seria longe do quereríamos, mais, mas bem mais longe do que esta maria anda de ti faz mais de um ano. 
Contar-te-ia que nada do que me propus cumpri, que me sinto triste e fraca comigo mesmo, mas que nada disso interessa porque sei que sentir-me grande outra vez não mudará o que sinto por ti. Falaria nos sonhos e lembranças, nas histórias que me ocorrem, em como sorrio de mansinho e olhos brilhantes cada vez que lembro o limbo do pudim. Em como me fazes falta de qualquer maneira, em como me faltas tanto como amigo. E íamo-nos rir, muito, quando te dissesse que o quebra-cabeças do comando, com que andamos tanto às voltas era só um problema de suporte, que nunca foi preciso mudar a pilha. E dava-te a mão no momento em que confessasse quantas vezes já parti o coração sem mais nada te dizer, mas a contar sempre com um respeito de homem grande por me ver. Ias-me saber tão diferente em tanta coisa, com tantas marcas novas, que viria apenas uma desaprovação da qual me ia rir de fininho por ainda te conhecer. Havias de me ver igual em tantas outras. Desaprovar o gato, as novas ideias e aventuras de costas e mãos, criticar intensamente as falhas feitas como só quem me amou tanto e tanto esperava o poderia fazer. 
Ias-me ver. E eu, ia te ver. E ia querer abraçar, tocar, perceber se o cheiro seria o mesmo por entre o chá no meio da mesa. E sorrir, muito, por saber que já és de outra ou que de ninguém queres ser, por saber que não és meu há tanto tempo quanto o meio do descarrilar, mas por te ver, por uma parte de ti ainda me ter. E eu te ter, sempre. Sem querer mais nada que um café. A conter as lágrimas de uma felicidade de partilhar mesa e conversa e da dor de tudo já ser tão longe do que foi. Mas ser.
Volto-te a dizer, ninguém me ensinou a desamar. E a ti, ensinaram-te a nunca quebrar as promessas. 
Com quem as queres cumprir é que vais ter sempre que escolher.

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