19.10.06

Passa um dia, passam dois. O ritual é sempre o mesmo.
A areia que já conhece as palmas das minhas mãos, o mar que me envolve como lençol nenhum conseguiu. O sol que me fecunda o ventre. Sinto-me mulher neste mar, sem precisar de homem nenhum, de nenhuma entrega, nenhum desejo, nenhum corpo para além do meu.
E na água deixo todas as mágoas, saudades e historias. Cada dia perco um pouco mais de ti, a tua preguiça, as tuas defesas, o que quer que chames à tua indiferença faz-me abandonar-te.
Hoje com o pé na água perdi uma história. Elas descem pelas pernas abaixo que nem aneis e ficam lá, no mar. O dia em que te disse que queria namorar contigo. Não me lembro de desciamos ou subiamos as escadas do prédio. Hás-de me contar isso um dia. Quando voltar e tiveres que me contar todas as historias para eu lembrar de novo... Se assim for. Porque, agora, vou esquecer... deixar, perder no mar.
O mar, quando cheguei, era o que me unia a ti. Olhava para o horizonte e julgava ver-te do outro lado. Percebi que era ignorância minha. Estou numa baía, de todos os santos segundo dizem, e dobrada sobre mim. Por isso é lá o pôr do sol e não o nascer.
Agora entendo. O mar é o que me revolta, reprende aqui. E do outro lado só tem um caminho de volta para mim, um caminho para dentro de mim.
MIM, MIM, MIM, MIM, MIM e um tu que é levado nas lágrimas que já não choro.

2 comentários:

Anónimo disse...

Amo o modo como escreves... com alma, com as entranhas.

Anónimo disse...

Um beijo, Maria que quero sempre perto de mim.