25.1.12

coração seringueiro

Até a mim me espanta a certeza com que digo parta-se o meu antes dos outros, com que abandono ao caminho tudo o que sei que é devido e tranquila vejo as veredas cada vez mais altas e os sonhos trôpegos. Pareço saber que tudo o resto é de vidro e que eu, a tudo entregue, tudo resisto. Espantam-me os delírios, as febres poucas e este sol de inverno estéril, sabendo uma primavera breve, fora de estação, a crescer neste pousio, terra mole, revolta que é o meu coração. E sei que espero com a certeza de não acontecer para breve, de ser tenra e doce como um fruto de verão, de passar novembro, todas as metas e promessas ou não. E num passo, um chiado fininho, o medo do espaço medido e do encontro que traia tudo em mim de tão bonito. Ainda temo ver o passado de tão estranho que se me tornou, tremo, tonta, entregue, o buraco, o falhado, a prova do que não sou.
É um tempo sem vento este, que me faz querer chuva e emoção, que me põe entre a comida e o prazer, dando-me um pouco de tudo, mas nunca o suficiente para satisfazer. Um tédio disciplinar, no meio do acordar, sorrir e deitar. E abandonada às muitas aventuras, sempre presente este espaço coberto, coração, braços, peito balofo, onde os outros balançam sem risco porque deixo todo o dia que o risco seja só meu. Não me assusta, nem faz temer, a tempestade do meu sangue precisa de muito mais para ser.
E de borracha, grande ou marinheiro, é meu, completo e velejador. Em ordem vaga ou caos horário, calmo, displicente, ensinado, sem autoridade, nem lei, nem mar revolto a navegar.

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