17.2.12

Diz que é ali que vamos todos ver os monstros

Primeiro a bonança... e um dia bom, cheio de sol, com corações sedentos e bocas sedentas, dia de vinho branco, cor de luz e rio amarezado. Depois as noticias, seguidas de tudo o que se pode fazer- braços de polvo a chegar onde é preciso, ginástica de fala e esforço tremido, onde rolam apenas duas lágrimas. Uma apneia de contenção, um sentir manso a conter a dor bruta até mais não. Aguenta-se o segundo falado, o primeiro prático, o terceiro confessado. E vem, de repente, a menina, agora maior mas com os mesmos medos, o retorno de perder o retomado, a segunda volta triste de um disco tão parecido. Ocorre-te. Perder pela segunda vez, ela primeiro, tu, depois, claro. E a procura da cura, a tua, que a outra não controlas, sentir apenas o corpo. Desta vez, só, desta vez, mais uma, de novo, foder, não falar. Não há nada para resolver, mais que o programado não o podes fazer. Procura então o remédio, o teu, o alívio rápido da dor, a panaceia mais eficaz, mergulhar no corpo do outro até esqueceres a tua cabeça. No fundo, a pergunta de sempre, se tudo piorar o que vais fazer? Contra que parede te vais atirar para não doer, assim tanto, outra vez. O mal de muitos pais, ser perdedora. Todos os medos, num só, o de perder outra vez, menina, mulher, que mais se pode fazer. Curiosa de saber porque nunca aparece este remédio, porque nunca nestas noites te afundas um pouco mais e o quê no destino te protege de ti mesma. E saber que é só o impacto de não ter oração, de ter esperança, braços e força, mas ainda não saber a reza certa para te curar a ti, curando o outro antes. Agarrada às palavras, memorizas um mantra desta vez real, vai correr tudo bem.

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