4.2.12

o vestido preto

Os dias maus começam sonhados por ti. E continuo sem perceber como algo tão fugaz me deixou tão gado tresmalhado, deixado por ti para trás. Os lutos não vêm e nunca anuncias dias auspiciosos, embora venhas com o sol. Mas és sol em pedra, mudo, e sem o som da tua voz não há pedaços de terra nem flores. Se o que sinto assinala, estou reclusa de mim mesma, se nada é, porém, quero me viúva, de tão negro me pões o coração. E os olhos escondidos atrás do sorriso, o gazeado negro que me cobre as vistas, não me priva da beleza, nem dos dias, mas quero me só, de cama para mim, presa ao minuto em que vens, tu que nunca te anuncias.
Anuncias apenas os dias maus. E num arauto de mim mesma, fico tão longe de mim como dos braços que nunca tive e prometo abandonar as secretas disposições e todas as teologias perdidas, as que pensei por ti e só por ti seguiria. Sedenta do teu beijo, sonho-o como o mais perfeito que seria e ponho o negro, para esquecer, ou lembrar, que nunca o tive nem nunca vou ter.

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