22.2.12

de coração aberto,

dando o que posso, dizem os sábios, recebo a dobrar. E que razão! Assim de mãos em sangue de o portar, de peito rasgado e entranhas à vista, desdobrando o que eu sou em pano raso, em lenço de céu, a cada passo preparada para voar, para dar e transportar os outros no meu sonho. E olhos rasos também, de lágrimas de tanto amor que recebo, de todo o carinho amparo, de saber que nunca chega a queda, porque os braços são muitos para apegar. E nesse apego todo pronta a cada tempo para a partida. Coração balancé de tanto espaço tem o peito e tanta criança adulto nele a brincar. Coração em quartos, coração hotel, casa de repasto, cheia de famílias e pronto a refastelar. Coração sofá, transporte público de passe gratuito e vitalício, com lugar de prioridade para os meus velhos e para os grandes que disfarçam já não ser crianças de colo. Coração sem borboleta, de portas grandes e pintadas a mil mãos, coração de festa, coração grande salão. E quando falo com um a dizer que por ele também me poderia apaixonar, e pelo outro também, havendo só o espaço e luz entrevista do que se poderia receber e dar, percebo a resposta que me falta calar. Coração poeta, de tantos musos e estrelas, de tantas danças e paradas, de tanto querer e amar, de tão diferentes formas, diversas histórias, de contos, fábulas e documentais.  Um compêndio de mitologia, este coração artista, tem tritões, reis, meninos, bandidos e fantasias. E recebe, das mais amplas formas, tudo a dobrar.

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