16.2.12

Rapaz

Rapaz, vejo-te bonito. A cada dia, vejo-te bem. E assim me contenho para que não derreta, sei que a nada leva, nos meus olhos devo deixar escapar essa ternura de que revestes... fico mel por dentro, doce, embalada na tua voz tão bruta, pendurada na linha direita do teu nariz, perdida na barba densa, no sorriso, sorriso tão bonito. E assim fica decorado o castanho dos teus olhos, o teu gosto por pequenos almoços na cama e noites de pés felpudos e pernas quentes e enroscadinhas, a liberdade de gestos criado o espaço de amar. E enquanto adivinho os braços fortes escondidos nas malhas e ouço tudo o que é simples, adornado, enroucado, enriquecido no teu discurso, e quero me horas a falar, beijar e foder. A usar todos os termos e todas as práticas, assim sempre de mansinho. E foges-me com ressalva de rapaz de província, com desvios de conversa sempre de uma delicadeza extrema, engano-me que me dás mais caça, que um dia te apanho, porque, rapaz, mais um dia em que te vejo bonito, hoje mais um dia. E sem te encostar, espero mais um pouco pelo convite, e pelo dia passado entre o sol e onde a luz não entra, com cheiro a lareira, sem haver chama, só com o fogo brasa de nos querermos. Vejo-nos sempre assim, meiguinhos. E a ti, a cada dia te vejo bonito.

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