22.11.11

Comprometi-me a voar outra vez... (com as cores do corpo que alguém me deu)





E para voos mais longos, abraço a dor. O capricho reconhecido, a patologia do dar marcada, o voluntarismo, o capitão que perde por só querer mandar, o desejo inacabado sempre na sofreguidão. Mas falta mais, falta a inércia, a rejeição, a mesquinhez ainda não encontrada, a fragilidade escondida nos braços fortes de uma mulher. Abraço a compulsão, os medos que engulo em seco por não querer reconhecer, os choros que não admito, a raiva que só danço, o orgulho escondido num sorriso amplo, as defesas por terra ao ver a primeira flor. Espelho-me, a preguiça, a languidez, a falta de disciplina, a mentira pequenina, o vicio da cama, a boca pronta, o ouvido manso. Toda a pequenez. Estendo os braços e aceito, aceito o que é preciso morrer.
Aceito a dor.
E respiro longo, a cada passo que vou dar, o primeiro em terra, o aço frio, a perfuração, um, dois, três, quatro. Preparo as asas, mais um passo em chão. Outro ainda. Agora, assim, o ar que vem, dentro de mim, em minha volta, suspensa, a tropegar no céu. Quero abrir os olhos, ver de novo o laranja e outras cores, mas deixar que cada lágrima me turve um pouco até chegar ao êxtase. Cada vez um pouco mais. Sempre no limite de mim, pelo menos assim. Puta, casta, frágil e forte, inteira, uma mulher e um rapaz, pausada no espaço, a saber dos braços dos outros, do caminho que tem que fazer, do inevitável e do que está nas mãos. A cumprir-me no firmamento.  A lançar-me, porque cada minuto é mais uma milha de corpo andado, porque cada folha é menos um papel branco para preencher, cada luta mais um cibo de amor.
A aceitar a alegria também, o riso fácil e franco, o desfrute por estar viva, a ternura concedida, os beijos, abraços e amassos, o espaço infinito na cabeça, tão grande quanto o universo do meu coração. As bênçãos todos os dias, os cheiros e suores, a liberdade de mãos, as pernas longas para correr, os dedos ágeis, a barriga cheia. A fé, os sonhos, os desejares de lábio na boca, as ocorrências, o outro, tudo em constante renascer.
Não sabia que um infinito também se desenhava num gancho, e que também se rasgavam as conquistas, quem diria... também são constantes...
O gesto repetido, de punhos, olhos abertos, pés atentos, abrir as mãos. O ser, o dar, o receber, em hélice dupla, numa evolução que é só um apuramento.



Mania de viver.

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