28.11.11

epifania de uma noite

Aquele corpo tem o tamanho do mundo.

Aquele corpo cheira a mar e tem nos recantos sabor a sal de tanta onda que por ele passou. Aquele corpo deve demorar anos, meses a percorrer, da cor das cordilheiras e dos planaltos longos, com linhas direitas e geometria fluida, com braços longos e força para me encher. Aquele corpo é estranho, assustador. E tenta-me. É meigo e bruto num só aperto, e tanto corpo, de uma leveza só. Aquele corpo é terno, fugidio e entregue, exposto e misterioso, cheio de segredos e metros a discorrer. Tem voz densa e porte rouco, tem mãos, tem pés, tem cabeça. É estranho e assustador. E tenta-me.
Aquele corpo pensa, tem reserva, tem carinho, tem amor. E cheira-me livre, relaxado, entregue às mesmas vias que eu, e eu quero-me entregue ali, em cada mão eu toda, corrida, querida, tentada, encostada, uma e outra vez. A ir e voltar quando eu quiser, a ser marés. Aquele corpo é desejo e desconhecido, é espontâneo e contido e tão grande que só pode ter muito que se lhe diga.
E desejo-o generoso, amplo e aberto, desejo-o curioso, assim como estou de saber como ama de corpo, de abraço, livre, solto, um gigante a um pássaro.

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